terça-feira, 6 de junho de 2017
Automotora Beja - Casa Branca
Um We are the world alentejano em luta pelo comboio Beja-Lisboa
Músicos, grupos corais, coro de câmara, crianças e jovens das escolas vão cantar uma moda que retrata a revolta da população pela má qualidade do comboio que serve a região.
JORNAL PÚBLICO - CARLOS DIAS
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“Temos de recorrer ao sarcasmo alentejano para reagir”, diz FABIO TEIXEIRA
À medida que a temperatura sobe gradualmente na região alentejana, a paciência da população de Beja esgota-se na expectativa sistematicamente gorada de poder vir a ter viagens de comboio que respeitem os horários, em carruagens que não cheirem mal e permitam aos passageiros verem a paisagem. Os grafittis cobrem as janelas de tinta espessa, o que confere ao interior um ambiente pesado. Os alentejanos preparam agora formas de luta e a música será uma das armas.
“Temos de recorrer ao sarcasmo tipicamente alentejano, a uma linguagem mais ácida para reagir contra a omissão e a indiferença”, propôs o médico João Lemos, no decorrer do encontro que a Associação de Defesa do Património de Beja (ADPB) realizou no final da semana passada na capital do Baixo Alentejo para debater formas “mais activas de luta” pela melhoria do transporte ferroviário que serve a região de Beja.
Os passageiros revoltados pelo mau serviço prestado pela CP já comparam a única automotora que faz as ligações entre Beja e Casa Branca a uma “carroça”. Quando as temperaturas oscilarem entre os 35º e os 40º centígrados, “os que saem de Beja na composição das 4h11 chegam à Casa Branca desfeitas com o calor”, antecipou uma utente presente no encontro. Critica ainda as dificuldades que tanto idosos como jovens encontram para entrar nas carruagens pelo acumular de malas junto à entrada e nos corredores da composição que “não obedecem às condições mínimas de mobilidade”, observa.
Pedro Vasconcelos, também médico, sugeriu que “deviam ser imputadas responsabilidades à CP por problemas de saúde que possam ser consequência do mau transporte” que é colocado à disposição dos que residem na região de Beja. Muitos passageiros que escolhem o comboio como meio de transporte são pessoas idosas que “na sua maior parte rumam a Lisboa para tratamento ou observação médica”, acrescenta Florival Baiôa, presidente da ADPB, referindo que os protestos da população subiram de tom.
As recentes declarações do primeiro-ministro António Costa a anunciar obras no caminho-de-ferro em Évora — “quando em Beja, a partir das 19h, não há qualquer transporte público de e para Beja” — foram a gota que encheu o copo da contestação popular.
Cansados de tentar superar o contencioso existente, através do diálogo, Baiôa anunciou que devem ser encetadas “formas mais activas” de protesto, ao mesmo tempo que deve ser exigido aos três deputados eleitos pelo círculo de Beja (PS, CDU e PSD) e presidentes de câmara do distrito que “tirem a máscara e dêem a cara” pela luta da população.
As acções a desencadear, no imediato, passam por “encaminhar protesto para a União Europeia”, ir até à Casa Branca de comboio e após a chegada proceder “à lavagem da carruagem que está coberta de grafittis e cheira mal”.
A radicalização da luta pode passar pela instalação de uma fronteira simbólica a delimitar o Baixo Alentejo e “fechar a rotunda à entrada de Beja que dá acesso a Lisboa, Espanha, Évora e Algarve” para realizar um piquenique.
Numa fase posterior, ainda em preparação, será dada voz a “todos os músicos naturais de Beja”, entre eles António Zambujo e os Virgem Sutra, grupos corais, Coro de Câmara de Beja, crianças e jovens das escolas da cidade, que, em uníssono, vão cantar estilo We are the World na escadaria do Museu Regional de Beja, uma moda de protesto que tem como refrão: Beja merece/pelas pessoas que tem/Muito mais do que desdém/e beijinhos de eleição/ Beja merece/Um comboio, um avião/Uma estrada, pois então/Para me vires abraçar.
O presidente da ADPB explica que a população pretende “ter acesso a um comboio com qualidade, comodidade e que proporcione aos cidadãos do distrito o mesmo tratamento que os restantes portugueses já usufruem em outras regiões do país”.
CP confirma constrangimentos
Em resposta a um conjunto de questões colocado pelo PÚBLICO, uma fonte da CP confirma que o material circulante que faz a ligação entre Casa Branca e Beja “apresenta uma idade bastante avançada, atingindo já uma média de cerca de 50 anos (são de 1965)”.
Esclarece ainda que apesar da modernização realizada entre 1999/2002 na frota de automotoras UDD450, estes equipamentos “apresentam um potencial de vida útil adicional inferior a dez anos, encontrando-se completamente desadequada para o serviço que assegura”.
As composições colocadas no ramal ferroviário que serve Beja circulam a “baixas velocidades comerciais, com tempos de percurso elevados, têm baixa fiabilidade e elevados custos de manutenção, necessários para manter uma frota em final de vida e exigem uma manutenção frequente e cara e consequentemente baixos índices de produtividade”.
A CP diz que está obrigada a recorrer a automotoras de diesel, alegando que linha férrea Casa Branca/Beja “não está ainda electrificada. A empresa imputa a principal causa de atrasos na Linha do Alentejo às avarias ou anomalias de material, “perfazendo cerca de 78% dos atrasos verificados”, assinala. Relativamente às avarias no sistema de ar condicionado, ocorreram “apenas três” entre Janeiro e 15 de Maio, garante. Reagindo às críticas de falta de higiene das composições, a CP diz que as auditorias mensalmente efectuadas ao interior dos veículos “não indiciam nenhuma falha de higiene”. No entanto, a empresa diz ter noção que ao nível do exterior do material circulante, “a existência de grafittis e sujidade requerem melhorias”. Para superar esta situação anómala a empresa aguarda pela entrada em vigor do “novo contrato de remoção de grafittis”.
“Mesmo com os constrangimentos descritos” a CP reconhece que tem sido possível “aumentar significativamente o número de passageiros transportados”. O movimento anual de passageiros passou dos 118.508 em 2014 para os 139.873 em 2016, “um aumento gigantesco” de 18,4%, sublinha a empresa. Em 2017, no período entre Janeiro e final de Abril, o número de passageiros passou dos 47.052 registados em 2016 para os 49.277 em 2017, o que significa um aumento de 4,7%.
À medida que a temperatura sobe gradualmente na região alentejana, a paciência da população de Beja esgota-se na expectativa sistematicamente gorada de poder vir a ter viagens de comboio que respeitem os horários, em carruagens que não cheirem mal e permitam aos passageiros verem a paisagem. Os grafittis cobrem as janelas de tinta espessa, o que confere ao interior um ambiente pesado. Os alentejanos preparam agora formas de luta e a música será uma das armas.
“Temos de recorrer ao sarcasmo tipicamente alentejano, a uma linguagem mais ácida para reagir contra a omissão e a indiferença”, propôs o médico João Lemos, no decorrer do encontro que a Associação de Defesa do Património de Beja (ADPB) realizou no final da semana passada na capital do Baixo Alentejo para debater formas “mais activas de luta” pela melhoria do transporte ferroviário que serve a região de Beja.
Os passageiros revoltados pelo mau serviço prestado pela CP já comparam a única automotora que faz as ligações entre Beja e Casa Branca a uma “carroça”. Quando as temperaturas oscilarem entre os 35º e os 40º centígrados, “os que saem de Beja na composição das 4h11 chegam à Casa Branca desfeitas com o calor”, antecipou uma utente presente no encontro. Critica ainda as dificuldades que tanto idosos como jovens encontram para entrar nas carruagens pelo acumular de malas junto à entrada e nos corredores da composição que “não obedecem às condições mínimas de mobilidade”, observa.
Pedro Vasconcelos, também médico, sugeriu que “deviam ser imputadas responsabilidades à CP por problemas de saúde que possam ser consequência do mau transporte” que é colocado à disposição dos que residem na região de Beja. Muitos passageiros que escolhem o comboio como meio de transporte são pessoas idosas que “na sua maior parte rumam a Lisboa para tratamento ou observação médica”, acrescenta Florival Baiôa, presidente da ADPB, referindo que os protestos da população subiram de tom.
As recentes declarações do primeiro-ministro António Costa a anunciar obras no caminho-de-ferro em Évora — “quando em Beja, a partir das 19h, não há qualquer transporte público de e para Beja” — foram a gota que encheu o copo da contestação popular.
Cansados de tentar superar o contencioso existente, através do diálogo, Baiôa anunciou que devem ser encetadas “formas mais activas” de protesto, ao mesmo tempo que deve ser exigido aos três deputados eleitos pelo círculo de Beja (PS, CDU e PSD) e presidentes de câmara do distrito que “tirem a máscara e dêem a cara” pela luta da população.
As acções a desencadear, no imediato, passam por “encaminhar protesto para a União Europeia”, ir até à Casa Branca de comboio e após a chegada proceder “à lavagem da carruagem que está coberta de grafittis e cheira mal”.
A radicalização da luta pode passar pela instalação de uma fronteira simbólica a delimitar o Baixo Alentejo e “fechar a rotunda à entrada de Beja que dá acesso a Lisboa, Espanha, Évora e Algarve” para realizar um piquenique.
Numa fase posterior, ainda em preparação, será dada voz a “todos os músicos naturais de Beja”, entre eles António Zambujo e os Virgem Sutra, grupos corais, Coro de Câmara de Beja, crianças e jovens das escolas da cidade, que, em uníssono, vão cantar estilo We are the World na escadaria do Museu Regional de Beja, uma moda de protesto que tem como refrão: Beja merece/pelas pessoas que tem/Muito mais do que desdém/e beijinhos de eleição/ Beja merece/Um comboio, um avião/Uma estrada, pois então/Para me vires abraçar.
O presidente da ADPB explica que a população pretende “ter acesso a um comboio com qualidade, comodidade e que proporcione aos cidadãos do distrito o mesmo tratamento que os restantes portugueses já usufruem em outras regiões do país”.
CP confirma constrangimentos
Em resposta a um conjunto de questões colocado pelo PÚBLICO, uma fonte da CP confirma que o material circulante que faz a ligação entre Casa Branca e Beja “apresenta uma idade bastante avançada, atingindo já uma média de cerca de 50 anos (são de 1965)”.
Esclarece ainda que apesar da modernização realizada entre 1999/2002 na frota de automotoras UDD450, estes equipamentos “apresentam um potencial de vida útil adicional inferior a dez anos, encontrando-se completamente desadequada para o serviço que assegura”.
As composições colocadas no ramal ferroviário que serve Beja circulam a “baixas velocidades comerciais, com tempos de percurso elevados, têm baixa fiabilidade e elevados custos de manutenção, necessários para manter uma frota em final de vida e exigem uma manutenção frequente e cara e consequentemente baixos índices de produtividade”.
A CP diz que está obrigada a recorrer a automotoras de diesel, alegando que linha férrea Casa Branca/Beja “não está ainda electrificada. A empresa imputa a principal causa de atrasos na Linha do Alentejo às avarias ou anomalias de material, “perfazendo cerca de 78% dos atrasos verificados”, assinala. Relativamente às avarias no sistema de ar condicionado, ocorreram “apenas três” entre Janeiro e 15 de Maio, garante. Reagindo às críticas de falta de higiene das composições, a CP diz que as auditorias mensalmente efectuadas ao interior dos veículos “não indiciam nenhuma falha de higiene”. No entanto, a empresa diz ter noção que ao nível do exterior do material circulante, “a existência de grafittis e sujidade requerem melhorias”. Para superar esta situação anómala a empresa aguarda pela entrada em vigor do “novo contrato de remoção de grafittis”.
“Mesmo com os constrangimentos descritos” a CP reconhece que tem sido possível “aumentar significativamente o número de passageiros transportados”. O movimento anual de passageiros passou dos 118.508 em 2014 para os 139.873 em 2016, “um aumento gigantesco” de 18,4%, sublinha a empresa. Em 2017, no período entre Janeiro e final de Abril, o número de passageiros passou dos 47.052 registados em 2016 para os 49.277 em 2017, o que significa um aumento de 4,7%.
https://www.publico.pt/2017/06/06/local/noticia/versao-alentejana-de-we-are-the-world-quer-melhorar-os-comboios-bejalisboa-1774389
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